São pouco mais de 19h quando Marcus Moreira, o DJ Fofinho, chega para mais um dia de trabalho no Villa Country, balada tradicional de música sertaneja da zona oeste de São Paulo, onde ele trabalha desde a inauguração, há 12 anos. Ele diz que gosta de chegar cedo para deixar tudo pronto. A roupa escolhida para entrar em ação numa quinta-feira é boné, camisa da seleção inglesa de futebol, calça jeans e tênis. O figurino diz muito sobre o personagem, que acompanhou a história da música sertaneja e participou dela desde os tempos do show "Amigos" até o sertanejo universitário. "Ou você se adapta à mudança ou é engolido pelo tempo", diz ele.
A ligação de Fofinho com o country e o sertanejo começou na metade dos anos 1990, bem antes do Villa Country. Ele ainda não tinha 20 anos quando foi contratado pela Country Beer, casa que arrastava milhares de pessoas todo final de semana até São Caetano do Sul, no ABC paulista. Na mesma época, o show "Amigos" (1995-1998), que começou com Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo e Zezé Di Camargo & Luciano, fazia sucesso na Globo. "Era uma época muito diferente. Você não poderia entrar na casa de tênis ou boné e também não com qualquer camiseta", conta o DJ.
Bota e camisa xadrez
Na mesma época, a novela "Rei do Gado" (1996-1997) fazia sucesso e trazia Almir Sater e Sergio Reis na pele da dupla Pirilampo & Saracura. Era o que faltava para o sertanejo ficar pop. "O sertanejo se consolidou e ajudou na entrada do country americano no Brasil", diz Fofinho, lembrando que, entre um "Pense em Mim" e um "É o Amor", Garth Brooks e Shania Twain lotavam pistas com "Standing Outside the Fire" e "Any Man of Mine", respectivamente.
O DJ também seguia as regras do jogo e trabalhava de bota, chapéu, camisa xadrez e a calça colada à la Zezé Di Camargo. "Às vezes, usava até blazer. E cheguei a importar botas de US$ 1.000."
Hoje, com 38 anos, ele diz que não tem mais condições de usar calça apertada ou bota. "Machuca meu joelho", diz o DJ, que conta ter ganho o apelido ainda no berçário, por ser dócil com as enfermeiras.
A fama da Country Beer fez com que o dono do espaço, Marco Antonio Tobal, abrisse o Villa Country, uma casa maior, na Barra Funda, em 2002. A tradição country, com as comitivas (grupos de amigos com estilo e dança próprios), se estendeu até 2009, quando o termo "sertanejo universitário" se consolidou e mudou de vez estilo das músicas e do público.
O que não pode faltar na setlist de Fofinho
Os novos e universitários
César Menotti & Fabiano, Paula Fernandes, Victor & Léo, Jorge & Mateus, Fernando & Sorocaba, Luan Santana, João Bosco & Vinícius, Gusttavo Lima, Henrique & Jiuliano, Munhoz & Mariano, João Neto & Frederico, Cristiano Araújo, Humberto & Ronaldo, Marcos & Belutti, Thaeme & Thiago, Michel Teló
Os gringos
George Strait, Garth Brooks, Alan Jackson, Kenny Chesney, Toby Keith, Tim McGraw, Shania Twain. Faith Hill, Brooks & Dunn, Lady Antebellun, Miranda Lambert, Blake Shelton
Os Clássicos
Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo, João Paulo & Daniel, Sérgio Reis, Bruno & Marrone, Gian & Giovane, Rick & Renner, Rio Negro & Solimões, Teodoro & Sampaio, Gino & Geno, Edson & Hudson, Guilherme & Santiago, Zé Henrique & Gabriel
Sertanejo universitário
"Eu convidava meus amigos para me ver tocar, e eles diziam que 'essa coisa de caubói' os deixavam deslocados. O sertanejo universitário veio para acabar com isso." Segundo Fofinho, o visual ficou descontraído, e o público, mais jovem. A vantagem, garante ele, é que as festas começaram a atrair pessoas que curtem outros gêneros e que podem até se abrir para coisas novas. "Outro dia, um amigo me perguntou: Por que não toca mais modão? Respondi que o Pelé parou de jogar bola faz tempo e que o Jairzinho cresceu. As coisas mudam."
Mas nem tudo são flores para Fofinho nessa mar de diversidade sertaneja. "Tem algumas misturas, com o funk por exemplo, que eu particularmente não gosto. Tem a parte ruim", diz ele. "Quando é ofensivo e vulgar, eu também não gosto. Toco na parte profissional. Na parte pessoal, eu não tocaria. Acho que, com a idade, vamos ficando mais seletivos", reflete.
Fã de Slayer
Engana-se, no entanto, quem pensa que o DJ só respira música sertaneja. "Eu gosto muito de rock and roll. Às vezes, vou para casa ouvindo Slayer e fui no show do Deep Purple. Também gosto de música eletrônica. Isso tira o cabresto, enriquece profissionalmente e pessoalmente", diz ele, que também tem seus preferidos entre os sertanejos: Fernando & Sorocaba, João Bosco & Vinicius e Luan Santana.
Outro dia um amigo me perguntou por que não toca mais moda de viola nas festas. Respondi que o Pelé parou de jogar bola faz tempo e que o Jairzinho cresceu. As coisas mudam
DJ Fofinho
Melhores momentos
Fofinho ainda tem frescos na memória os melhores momentos que presenciou como DJ. Ele não sabe o ano, mas se lembra bem do dia que fecharam o Villa Country para uma tal dupla chamada Cesar Menotti & Fabiano, da qual ele nunca tinha ouvido falar. "Não tinha mais onde colocar gente. Eles já faziam sucesso, mas com um público muito específico. Depois virou o colosso que foi."
Ele também viu se transformarem em sucesso duplas como Maria Cecília & Rodolfo e Victor & Leo, mas o ponto alto foi a gravação de DVD do Sérgio Reis, em abril de 2003, apenas um mês depois de o cantor ter sido submetido a uma cirurgia no cérebro. "Todo o mundo se emocionou. Eu já era fã e fiquei mais ainda."
E quais as músicas que estão bombando no momento? Ele responde sem pensar: "'Calma", de Jorge & Mateus, "Gordinho Saliente" de Henrique & Juliano e "Copo", de Munhoz & Mariano. A nova tendência, ele garante, é resgatar o tradicional, pois muitos músicos bem jovens estão voltando a falar do campo, das origens. "Acho que não podemos esquecer de onde viemos."
Há 12 anos no Villa Country, DJ Fofinho se adaptou às mudanças do sertanejo
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Postado por
Cezar de A Becker
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